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Guia de Frutas pelos Biomas do Brasil
Erivelton Mota aqui mais uma vez trazendo um novo conteúdo para o Diageo Bar Academy Brasil. Desta vez, você poderá conferir um guia de frutas das que temos pelos biomas do Brasil e que muitas vezes usamos com boa frequência ou ainda que poderíamos (deveríamos, na verdade) descobrir, entender e nos inspirar para criar receitas incríveis. Vamos lá?
BIOMAS BRASILEIROS E SUAS FRUTAS
É de conhecimento de muitos que o Brasil tem uma extensão territorial notável, sendo o quinto maior país do mundo, e se fossemos fazer um comparativo, praticamente todos os países da Europa caberiam na extensão territorial do nosso país que tem proporções de continente. E com todo esse tamanho, muitas condições de solo e clima influenciam no cultivo e desenvolvimento de diversos alimentos.
Neste guia vamos explorar um pouco sobre algumas frutas que esse grande país tropical tem, dividindo as informações por região, e consequentemente, biomas brasileiros.
O NORTE É VERDE
Vamos começar pela região norte, que está situada quase que em sua totalidade dentro do bioma amazônico, que – como o próprio nome dá a entender – está diretamente ligado a floresta amazônica. Este tem uma vasta variedade de flora e fauna e, por conta de sua grande área, é possível encontrar três grandes tipos de vegetação: Mata de Igapó, Mata de Várzea e Mata de Terra Firme. Por conta disso, é possível fazer praticamente uma lista de frutas de A à Z só desse bioma.
Certamente você já teve contato, ou pelo menos conhece, açaí, guaraná e, quem sabe, até o cupuaçu, frutas provenientes dessa região. Mas já ouviu falar de abricó? Camu-camu? Umari? Não vou te deixar só na curiosidade, continue lendo para conhecer um pouco sobre essas frutas.
CONHECENDO ALGUMAS RIQUEZAS DO NORTE
Abricó: cultivado em regiões de mata igapó (mata alagada) esta fruta de tamanho médio grande pode pesar em torno de 500 gramas até aproximadamente 3 quilos. Com casca dura, contém bastante polpa e um único caroço, similar a manga ou abacate. Esta fruta tem um sabor que pode variar muito a depender do ponto de maturação, mas geralmente tem sabor mais adocicado. Pode ser consumido in natura, quando maduro, e geralmente é utilizado em geleias, compotas, sucos, saladas e até mesmo na produção de licores.
Camu-camu: fruto de formato arredondado que contém uma casca de tons roxo, quando maduro, de polpa aquosa e coloração esverdeada. Comumente se desenvolve próximo a locais de água abundante e conta com um sabor levemente azedo. Pelo fato de ser uma fruta com muito caldo usualmente é consumido em forma de sucos e sorvetes, mas também é bem utilizado em doces e sobremesas.
Umari: fruto de tamanho pequeno, simular ao de uma goiaba, tem possui algumas variedades. Com polpa amarelada, essa fruta tem características gustativas muito peculiares. Por ter boa concentração de óleo comestível é possível reproduzir bolos, manteiga, mousses, purês e os mais variados doces com essa fruta.
A SAVANA BRASILEIRA
Passando agora pelo bioma brasileiro cerrado: ele se localiza mais ao centro do mapa do Brasil. Mesmo com uma vegetação baixa, chamada de gramínea, esta região conta com árvores de troncos grossos e robustos. Com características únicas, sua localização faz com que tenha contato com praticamente todos os biomas do Brasil, com exceção ao pampa. E dada essa extensão, o cerrado é reconhecido como a savana com maior biodiversidade do mundo, e claro, isso também se reflete nas frutas que encontramos por aqui. Confira algumas abaixo.
FRUTAS DO BIOMA CERRADO
Araticum do cerrado: planta que melhor se desenvolve em regiões de secas e com solo arenoso. Possui características bem peculiares da região, apresentando duas principais variedades: araticum de polpa rosada, com polpa mais adocicada e macia, e o araticum de polpa amarelada, que é ligeiramente mais ácido e menos macio. Muito consumida in natura, a fruta pode ser aplicada na produção de diversos insumos.
Cagaita: fruta de tamanho pequeno, com coloração vívida e amarelada (quando madura). A cagaita é uma fruta suculenta, com principal característica de sabor a acidez. Apesar de não ser tão consumida in natura, alguns preparos são feitos a partir da fruta, tais como sorvetes e diversos doces.
Lobeira: também conhecida como berinjela do serrado ou ainda fruta do lobo, cresce em abundância em regiões de pastos e por isso é considerada por pecuaristas uma praga. Quando verde o fruto contém grande concentração de taninos, o que pode dificultar sua utilização, quando maduro a polpa é amarelada, aromática e carnuda podendo ser utilizada no preparo de geleias e preparos similares.
Vale aqui uma curiosidade: um único fruto de lobeira pode conter em torno de quinhentas sementes.
EXPLORANDO TERRITÓRIO ALAGADO
O Pantanal é o menor bioma do Brasil, mas nem por isso significa que seja pequeno e com pouca variedade em sua área, de aproximadamente 140 mil km quadrados. Como o próprio nome sugere, este bioma tem característica de planícies alagadas. Além disso, está situado exclusivamente nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e conta com praticamente dois climas ao longo do ano: verão chuvoso e inverno seco.
Estudos realizados pela Embrapa Pantanal indicam que quase duas mil variedades de plantas já foram catalogadas na região, entre elas, muitas frutíferas, tais como a bocaiuva, guavira e inúmeras outras.
FRUTAS DO PANTANAL
Bacupari: fruto de um arbusto pequeno e também conhecido por outros nomes populares, o bacupari possui uma casca lisa com tons de cores que vão do amarelo ao laranja. Fruto pequeno, com dimensão aproximada de 3 centímetros apenas, com polpa esbranquiçada, aquosa com sabor adocicado. Pode ser utilizado para diversos fins, tanto a polpa quanto a casca.
Bocaiúva: é uma espécie de palmeira que dá frutos, muito encontrada no Mato Grosso. De casca dura e polpa carnuda, é conhecida também como chiclete cuiabano, pelo fato da polpa ser pegajosa. É muito utilizada no preparo de sucos, doces e geleias e a semente tem grande valor econômico, pois conta com grande concentração de óleos que são extraídos para comercialização.
Guavira: que também é conhecida como gabiroba ou guabiroba, é outra fruta pequena encontrada com certa recorrência neste bioma. Apesar de ser pequeno, conta com grande concentração de ácidos, potássio, vitaminas A e C entre outras substâncias. Com característica adstringente, sabor adocicado suave e textura macia, é ideal para o preparo de purês, sucos e compor sabor em produções artesanais.
O SERTÃO
“Prepare o seu coração, pras coisas que eu vou contar, eu venho lá do Sertão...”
Música à parte, vamos falar agora dessa região pra lá de incrível também.
A Caatinga localiza-se no nordeste de nosso país, indo desde o sul da Bahia até o Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte. Este bioma apresenta grandes adaptações climática das espécies de plantas e animais que ali habitam, devido ao grande período de estiagem e clima semiárido que o território apresenta.
A vegetação normalmente é conta com árvores e arbustos baixos, árvores tortuosas e com troncos secos, além de muitas variedades que apresentam espinhos. Todas essas características da flora foram desenvolvidas com o passar do tempo como um mecanismo de defesa contra os longos períodos de seca.
FRUTAS PELO NOSSO SERTÃO
Fruta-pão: fruto tropical da mesma família da jaca, com formação, peso e tamanho variáveis. A fruta pão dispõe de duas variedades, com e sem caroço. A sem caroço é consumida antes de amadurecer por completo, cozinhando a polpa para preparar uma espécie de purê ou assando-a podendo servi-la em fatias. Quando seca, a fruta pode ser processada para se obter uma farinha que pode ser utilizada em conjunto com a farinha de trigo, por exemplo, para preparo de massas e pães. Já o tipo que contêm caroço, sua polpa praticamente não tem valor alimentício, mas a semente é aproveitada para consumo, sendo preparada a partir de cozimento, fervura ou ainda tostada.
Pitomba: já que acabamos de citar o “parentesco” da fruta pão com a jaca, devemos também falar da semelhança entre a lichia e a pitomba – que também é chamada de olho de boi em muitas regiões do nordeste. Quando madura, a pitomba apresenta coloração alaranjada que pode chegar até tons de marrom. Com uma casca semirrígida que protege a polpa, a fruta conta ainda com um grande caroço, o que impacta muito o rendimento, diminuindo assim seu poder econômico. Consumida in natura, no preparo de doces ou até mesmo em licores, esta fruta apresenta um sabor misto de dulçor e acidez.
Sapoti: fruta que se desenvolve em climas quentes e suporta grandes períodos de estiagem, o sapoti se adaptou muito bem ao clima nordestino. Com característica de polpa gelatinosa e textura suculenta, esta fruta adocicada remete vagamente ao caqui. Pode ser consumida in natura ou ainda aplicada no preparo de polpas, doces e sobremesas, no entanto, o alto processamento da fruta pode fazer com que perca seu sabor.
A MATA
A Mata Atlântica recebe esse nome por ser o bioma que fica mais próxima ao oceano atlântico. É considerado o terceiro maior bioma brasileiro e o mais habitado pelo ser humano: cerca de 60% da população do país reside nesta região.
Apesar de ter uma baixa porcentagem de sua formação original, tem uma boa variedade de espécies, sendo algumas endêmicas, ou seja, que só se encontram nele.
Agora quando o assunto é fruta, temos vasta pluralidade! Vamos conferir algumas?
FRUTAS PELA NOSSA REGIÃO ATLÂNTICA
Cabeludinha: com um nome totalmente associado à sua aparência externa, a cabeludinha é uma fruta nativa de coloração amarela, totalmente recoberta por “pelos”, similar a um Kiwi. Também conhecida como jabuticaba amarela, possui uma polpa translúcida e apresenta entre um e dois caroços em seu interior, além disso, possui um toque adocicado e ácido, adstringente.
Grumixama: esta fruta pequena e de nome diferente, mas de fácil cultivo e manejo, tem uma casca de tom preto e interior amarelado/laranja. Colhida na primavera, normalmente se desenvolve desde o sul da Bahia até o norte do Rio Grande do Sul. Com um sabor levemente adocicado e ácido, podemos fazer uma breve comparação de sabores com algo como um misto de pitanga e jabuticaba.
Uvaia: fruta de tamanho e aparência similar a cítricos como a mexerica e laranja, a uvaia tem uma casca de coloração amarelo ouro quando madura e textura levemente aveludada. Com aroma agradável e rica em vitamina C, esta fruta é um pouco difícil de se encontrar em grandes redes de distribuição, como mercados, por conta de ser uma fruta muito sensível e oxidar rapidamente. Apresenta um grande caroço no centro, no entanto, tem bastante poupa e que pode ser consumida in natura ou ser conservada como polpa congelada, dada sua fragilidade.
PAMPA TCHÊ!
Chegamos em nosso último bioma, o Pampa, que está situado exclusivamente em solo gaúcho – mais precisamente, em sua totalidade no Rio Grande do Sul (claro, se tratando de solo brasileiro) e que apesar de representar apenas 2% do território nacional, abrange mais de 60% da área total do estado.
Aqui temos um ambiente formado por locais praticamente planos, com pouquíssimas ondulações, recoberto por gramas, arbustos e vegetação de pequeno e médio porte no geral. Assim como na mata atlântica, este bioma conta com espécies endêmicas.
FRUTAS DO PAMPA
Cambucá: O fruto é uma baga subglobosa, com quatro a sete centímetros de diâmetro, formato arredondado e achatados em suas extremidades. Sua casca é lisa e fina, que conta com sulcos com leve relevo longitudinais e a coloração é intensamente amarelo-alaranjada. Sua polpa é suculenta e assim como a casca, amarelo-alaranjada. Seu sabor remete o da jabuticaba, porém é mais intenso e de um agridoce balanceado, sem adstringência.
Jatobá: a polpa do jatobá pode ser consumida in natura ou ainda assada, e outras partes, como a casca e também as folhas, são utilizadas por terem propriedades anti-flamatórias. A casca mais rígida conta com uma coloração marrom, já a polpa que tem tons amarelados pode ser transformada em geleias, purês, licores. As cascas geralmente são consumidas em formato de chá (infusão) e as propriedades das folhas são extraídas para serem utilizadas como tinturas.
POR FIM...
E antes de terminarmos este conteúdo, vale destacar que não necessariamente todas estas frutas são de origem brasileira e que muitas delas passaram por adaptações, dando origem a outras variedades também figurando em regiões diferentes de sua origem ou primeiros cultivos.
CINCO DICAS FINAIS:
- Seja curioso. Busque sempre mais fontes de conhecimento sobre frutas;
- Prove. Seu paladar irá evoluir conforme você provar novos sabores e texturas;
- Anote tudo. Acompanhe a evolução de suas análises, repita degustações dos mesmos insumos periodicamente para avaliar seu progresso;
- Conheça seu produto. Se possível se conecte com quem produz seus insumos, isso gera identificação, conexão e você sempre pode aprender com troca de informações;
- Visite novos locais. Existe uma infinidade de feiras livres, mercados e até mesmo feiras culturais. Use essas possibilidades para expandir seu campo de visão.
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